17 de jul. de 2009

tropeços da primavera.


eu caminhava pelas calçadas e cuidava pra não tropeçar: os sapatinhos novos. ventava. um tipo de vento que é violento e morno e que arrancaria do chão uma árvore ou uma placa na maior das sutilezas, pedindo “- com sua licença”. eu caminhava e não tinha pressa. não me importava em chegar. andar ao vento bastava.


e não era primavera porque era agosto, lembro-me que era agosto. mas nada era mais primaveril que o vento morno. já entardecera e a noite agora se impunha progressivamente. senti calores que contestavam agosto. “a-atchim”. dei um espirro desses que eu só tenho em primavera. e também reparei nas flores. andei livre.


eu usava um vestido claro, com algumas estampas e uns babados. não por me gabar, mas estava bonita. e eu nem procurava meu reflexo nas vitrines pra constatar. contente em me sentir bonita, o resto desimportava.aquela beleza não era do tipo de beleza que se vê. é do tipo que se sente. nenhum espelho a comprovaria.


e de repente um desses senhores distintos que voltava do seu trabalho reparou em mim e falou pra si “ - bonita”. e eu ouvi, isso porque me intrometi na vida do senhor, no seu caminho, porque me esforcei em ouvir sua voz, que o intuito dele não era que eu soubesse. e foi como uma gentileza. dessas que as pessoas só recebem na primavera.


continuei o caminho. aonde eu me levaria? nem pensei que o elogio talvez não fosse pra mim. estava pretensiosa e impiedosa. entendam, não era por vaidade, o vente é que me cortava. eu flutuava nas rajadas e já não sentia os sapatos. um outro espirro. e as flores no caminho. é que a primavera não sabe do calendário. espero que ninguém conte pra ela que chegou adiantada.